10.04.2011

matei as gaivotas todas.
afoguei-as.
as gaivotas afogam-se?

as que me atormentavam, sim.
definitivamente
(devia acrescentar ali um ponto final, mas isso já é exigir-me demasiado)
senti-as a sufocar, lentamente, sem saber o que lhes acontecia
senti-as a achar que se salvariam, a justificar a falta de ar, não, a ausência de ar que, para elas, se tornou falta (que uma metáfora há que ser completa, definida, variável com variável)

senti-as a querer ficar, a agarrar-se, 
a cravar as garras no meu estômago,
que sangrava, sem perceberem que era no meu sangue, e de tanto se agarrarem, que se afogavam

matei-as
a todas
já não oiço os seus gritos e as suas asas já não batem. 

a sua carne entrará, lentamente, em putrefacção
o cheiro desencorajará quem quer que seja de se aproximar
no meu estômago, a carne morta das gaivotas que não me deixavam dormir
a podridão no meu estômago a sangrar
matei-as eu,
não queria e não gostei,
mas se não queriam ficar, nem deviam ter surgido
não as matei,
afogaram-se elas próprias no meu sangue.

acabaram-se as asas a bater, os gritos,
a impaciência, a agitação
as gaivotas morreram.
(ponto final)

serão as borboletas mais fáceis de matar?